A Tia Biatina partiu, e com ela muitas recordações da minha infância e adolescência, até mesmo já de adulta, quando aos Domingos a visitava e íamos tomar um café ao "Careca".
Ou quando o Tio Xico ainda vivia e, antes de jantarmos juntos, fumávamos um ou dois cigarros, enquanto beberricávamos um whiskinho. E a conversa fuía, sobre os mais variados assuntos, normalmente os assuntos dominantes da semana.
Foi uma presença quase diára na minha vida, até certa altura. Todos os dias se falavam, a minha avó, a minha mãe e ela. Tinham sempre novidades, combinações a fazer, "acertos" de pequenos desaguisados que surgiam de quando em vez.
Curiosa a forma como as manas se cumprimentavam. Apertavam-se os dedos, como se de um aperto de mão se tratasse, atirando dois beijinhos aos ar, como se na cara os trocassem.
Ambas eram muito bonitas. Uma mais forte, a outra mais magra, mas muito bonitas, na verdade.
O Moinho Vermelho, a Zurique, O Roma e a Capri eram locais habituais. Todos os dias estavam a tomar o seu cafezinho num deles. Mais raramente na Mexicana, talvez por ser um pouco mais fora de mão. E havia sempre assunto!
A tia gostava de arranjar-se, tornava-se mais vistosa do que a irmã, apesar dos olhos lindos cor de azeitona com pintinhas amarelas da minha mãe. Eram duas irmãs cuja ausência se sentiu, após a partida da avó e depois da minha mãe. Inseparáveis.
Penso que em breve se encontrarão em casa do Pai e, ao invés do simbólico aperto de mão, se abraçarão com ternura, mitigando as saudades da vivência desta vida afinal tão curta.
Deitei-me cedo ontem, muito cedo. Não estava bem. Alguma coisa me incomodava, alguma coisa que atribuía à queda da véspera e ao dedo mindinho da mão direita, inchado e dorido. Não conseguia sossegar e aparecia-me a frase "a Tia Biatina ... morreu!". A nitidez era assustadora, mas não esperei ver a confirmação numa mensagem do meu irmão esta manhã, no telemóvel.
Ao choque sucedeu-se a tristeza, uma tristeza ténue mas profunda, que se foi instalando e que ainda não consegui afastar. A saudade aumenta, quando pensamos que o reencontro pode tardar.
Um beijo Tia e que a Luz a conduza pelo caminho certo à morada do Pai. Aqui fica a minha homenagem, a minha amizade e a minha admiração pela mulher que escolheu ser nesta Vida.